A morte de Francisco Otaviano
Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, V.III, 1994.
Publicado originalmente em Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro,
29/05/1889.
Morreu um homem. Homem pelo que sofreu; ele mesmo o
definiu, em belos versos, quando disse que passar pela vida sem padecer, era
ser apenas um espectro de homem, não era ser homem. Raros terão padecido mais;
nenhum com resignação maior. Homem ainda pelo complexo de qualidades superiores
de alma e de espírito, de sentimentos e de raciocínio, raros e fortes, tais que
o aparelharam para a luta, que o fizeram artista e político, mestre da pena
elegante e vibrante. Vous êtes un homme, monsieur Goethe, foi a saudação
de Napoleão ao criador do Fausto. E o
nosso Otaviano, que não trocara a alma pela juventude, como o herói alemão, mas
que a trouxera sempre verde, a despeito da dor cruel que o roía, que não
desaprendera na alegria boa e fecunda, nem a faculdade de amar, de admirar e de
crer, que adorava a pátria como a arte, o nosso Otaviano era deveras um homem.
A melhor homenagem àquele egrégio espírito é a tristeza dos seus adversários.